O aparecimento do topónimo de Albergaria-a-Velha está
directamente relacionado com a concessão da Carta de Osseloa, em 1117,
por parte de D. Teresa, a Gonçalo Eriz, senhor da Villa de Osseloa,
localizada sensivelmente na zona onde actualmente se encontra o lugar de
Assilhó. Este documento tinha como principal objectivo a instituição de uma
albergaria, junto à estrada que ligava Coimbra ao Porto e passava por este
lugar, que servisse de apoio aos viajantes. Esta estrada, mais tarde conhecida
como estrada real ou estrada coimbrã, correspondia à Via XVI do itinerário
Antonino, que ligava Olisipo (Lisboa) a Bracara Augusta (Braga),
e teve determinante importância durante o período de reconquista cristã e de
afirmação do novo reino, sendo necessário garantir a segurança de todos os que
nela viajavam. Assim, a instituição de uma albergaria cumpria uma função de
assistência aos viajantes, mas também representava um papel político e social
na afirmação do novo reino e defesa do seu povoamento.
Nos séculos
seguintes, e já depois da confirmação das concessões a Gonçalo Eriz por parte
de D. Afonso Henriques, consolidou-se uma aglomeração junto à albergaria e ao
lugar de Osseloa, não tardando a construção de um Hospital. No séc. XV,
D. João II doou estas terras à irmã, a Princesa Santa Joana, que as legou às
Dominicanas do Convento de Jesus, em Aveiro. Além do lugar de Albergaria, havia
ainda no Couto os lugares de Assilhó, Sobreiro, Frias, Fontão e São Marcos,
pertencentes à Paróquia de Valmaior da qual Albergaria-a-Velha era sufragânea.
Em 1496, as freiras de Jesus criaram a Freguesia de Santa Cruz de
Albergaria-a-Velha.
Em 1527,
aquando do Numeramento de D. João III, Albergaria-a-Velha encontra-se arrolada
na província da Estremadura. Neste documento eram mencionadas quatro vilas e Concelhos
pertencentes ao atual Concelho albergariense, que receberam Foral de D. Manuel
– Angeja, com 95 vizinhos; Frossos, com 45; Paus, com 20; e Pinheiro, com 17.
Pertencentes ao termo de Aveiro contabilizavam-se Albergaria e Assilhó, com 44
vizinhos, Fontão com 4, Mouquim com 6, Rendo com 5, Valmaior com 5, São João de
Loure com 43 e Loure com 38; pertencentes à Vila do Vouga, Póvoa de Açores com
2 e aldeia de Valmaior com 12; e pertencentes à Vila de Bemposta, a Branca com
49 e a Ribeira com 34 vizinhos. No total, 442 vizinhos que totalizavam cerca de
2200 habitantes, sendo que a maioria da população vivia nas imediações do Rio
Vouga e de outros cursos de água, já que a sua principal ocupação era a
agricultura, que se praticava nas várzeas dos rios, mais facilmente
arroteáveis, irrigáveis e produtivas, mas também a pesca e a criação de gado.
Ainda segundo relatos da época, as zonas do interior, montanhosas,
encontravam-se cobertas por floresta e tojo.
No séc.
XVII, após um período de decadência, tenta-se reactivar a albergaria e o Real
hospital, reclamados pelo Ducado de Aveiro. Em 1629, em sentença da Relação de
Lisboa, confirma-se o tombo e demarcação das propriedades da instituição e a
função da albergaria para acolhimento de doentes, peregrinos e viajantes,
construindo-se então o chamado hospital novo, em cuja fachada foi colocada a
lápide hoje existente nos Paços do Concelho. Em 1692 inicia-se a construção da
igreja paroquial, por ordem de D. Pedro II. No século seguinte, em 1757, por
ordem do Marquês de Pombal, realiza-se um inquérito que contabiliza 621 fogos
na paróquia de Santa Cruz, correspondendo a cerca de 2800 habitantes. Este
inquérito refere ainda que “dão estas terras milho, centeio, cevada, trigo,
nabos, e mais frutos (…) caça bastante, lebres, coelhos, lobos” (Pinho, 2008,
p. 17).
As invasões
napoleónicas do séc. XIX tiveram particular impacto no território
albergariense, tendo-se registado importantes combates nesta região, De igual
forma, os ideais da revolução francesa encontraram aqui terreno fértil,
destacando-se diversas personalidades no período de guerra civil entre liberais
e absolutistas. Foi no decurso destas contendas e em reconhecimento da
intervenção dos albergarienses no combate ao absolutismo de D. Miguel que
surgiu, em 1834, o Concelho de Albergaria-a-Velha, constituído pelas Freguesias
de Albergaria-a-Velha, elevada a cabeça de Concelho, e de São João de Loure,
anteriormente pertencentes ao Concelho de Aveiro, de parte da de Valmaior,
subtraída ao Concelho de Vouga, e no ano seguinte o Concelho de Paus
(Alquerubim), que foi, em consequência, extinto. Após um breve interregno,
entre 1842 e 1846, durante o Cabralismo, em que a sede do Concelho foi
transferida para Paus, e após a sua restauração neste último ano, o Concelho de
Albergaria-a-Velha anexa, em 1853, as Freguesias de Frossos e Angeja, do Concelho
de Angeja, que é assim suprimido. Em 1855, o Concelho de Albergaria-a-Velha
adquire por fim a sua configuração actual, ao anexar as Freguesias da Branca e
Ribeira de Fráguas, pertencentes ao extinto Concelho da Bemposta.>
O início da
viragem urbana da vila deu-se nas últimas décadas do século XIX, com a
construção de algumas infraestruturas fundamentais e a chegada de importantes
equipamentos e serviços. Em 1889, criou-se um centro cívico (Praça Ferreira Tavares), de onde se projectaram e construíram novas vias que
constituíram a 1ª fase de expansão da malha urbana, assim como a rede de
abastecimento de água. Aqui foi edificado, em 1897, os Paços do Concelho.
A
localização geoestratégica privilegiada da vila, na confluência de importantes
vias de comunicação, permitiu a implantação precoce de alguns serviços que, há
época, representavam um sinal de modernidade e desenvolvimento. Foi o caso da
estação telégrafo-postal, em 1880 (embora os primeiros serviços tenham
aparecido em 1830); o aparecimento dos primeiros veículos motorizados e os
respectivos serviços de manutenção, nos primeiros anos do séc. XX; a construção
da Linha do Vale do Vouga, que se iniciou em 1907 e chegou a Albergaria-a-Velha
em 1910, ligando a vila a Aveiro e Viseu; a construção da primeira escola
primária em 1870, sendo que ainda antes do final do século todas as Freguesias
eram já servidas pela rede de ensino; a instalação do Julgado Municipal em 1887
e a criação da Comarca, em 1888.
Nesta
época, a população evidenciava características de ruralidade, como, aliás, em
todo o país. Os principais produtos comercializados eram aqueles que a terra
proporcionava, entre os quais trigo, milho, batata, feijão, vinho e a criação
de gado. Além destes, assumiam particular destaque e prestígio em outras
regiões, o arroz dos campos do Baixo Vouga, a madeira e a farinha, produzida
nas centenas de azenhas e moinhos que laboravam no Concelho. Esta panóplia de
produtos e a sua localização privilegiada faziam da feira de Albergaria,
juntamente com outras no Concelho, ponto de encontro de comerciantes e
negociantes de diversas proveniências, dinamizando também a actividade cultural.
A indústria, ainda incipiente, teve como actividades pioneiras as que retiravam
um melhor aproveitamento das matérias-primas locais, como a tecelagem caseira,
a cerâmica artesanal, oficinas de serralharia, oficinas de correeiros e
seleiros, fabrico de cera e de curtumes. Com o desenvolvimento das vias de
comunicação, a partir de meados do séc. XVIII, instalaram-se algumas indústrias
mineiras nas zonas interiores do Concelho, ricas em chumbo, cobre, zinco,
níquel e prata. Em meados do século XIX, instalaram-se também no Concelho
importantes indústrias, das quais as mais relevantes foram a fábrica de papel
de Valmaior, em 1872, e a fábrica de papel do Carvalhal, em 1881.
Após a
implantação da República, o Concelho trilhou paulatinamente o seu caminho rumo
à modernidade, acompanhando as dinâmicas que se verificavam no país. Ao longo
do século passado, a agricultura começou lentamente, mas de forma irreversível,
a perder a supremacia que detinha, tanto no que diz respeito à mão-de-obra que
absorvia, como à sua importância para a economia local, sendo aos poucos encarada
como um complemento ao rendimento familiar. No sector florestal, o eucalipto foi
ganhando preponderância, em parte devido à proximidade a grandes unidades
industriais de fabrico de pasta de papel. O sector secundário emergiu como
principal actividade, com incidência para o setor metalúrgico. Em 1921,
instalou-se em Albergaria-a-Velha a Fundição Lisbonense que, ainda nesse ano
passou a chamar-se Fundição Albergariense e, mais tarde, se viria a chamar
Fábricas Metalúrgicas Alba. Além da dinamização da economia e do mercado de
trabalho local, esta empresa foi responsável pela dinamização social e cultural
do Concelho, sendo da sua responsabilidade e dos seus proprietários a
construção do Cine-Teatro Alba, inaugurado em 1950, da Casa da Criança, do novo
hospital, inaugurado 1953, que veio substituir o anterior, datado de 1938, de
um bairro social e de um bairro para os trabalhadores qualificados, de um
parque desportivo, entre outras obras de relevo que ajudaram a infra-estruturar
o Concelho com o que de melhor se fazia à época.
Em 1968, foi
inaugurado o mercado municipal e em 1970 entrou em funcionamento a escola
secundária, complementando assim a oferta educativa ao nível do ensino secundário existente no Concelho desde a abertura do Colégio de Santa Cruz, em 1927, e do
Colégio de Albergaria, em 1947. Com a criação da zona industrial, em 1983, a
norte da cidade de Albergaria-a-Velha, criaram-se as condições necessárias para
a fixação de novas indústrias, formando um importante tecido empresarial no
sector metalomecânico mas também nos plásticos, alimentação, têxtil e madeiras.
in Bastos, João Pedro (2014). Dinâmicas Territoriais em Albergaria-a-Velha