sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Carta de Ocupação do Solo

A interpretação das Cartas de Ocupação do Solo (COS) de 1990 e 2007 permite-nos analisar as mudanças verificadas no uso e ocupação do solo em Albergaria. Relativamente a 1990, a floresta ocupava a maior mancha, distribuindo-se por 19,55 km², correspondendo a aproximadamente 65% da área analisada. Destes, 9,84 km² eram de povoamento florestal misto, 7,79 km² de folhosas e 1,93 km² de resinosas. Os meios semi-naturais, dominados por ocupação arbustiva e herbácea, tinham pouca expressão, não chegando a ocupar 1 km². As áreas agrícolas, que ocupavam 6,23 km², ou seja, 20,69% da área em causa, distribuíam-se numa heterogeneidade de pequenas parcelas na envolvente ou nos interstícios do perímetro urbano, das quais se destacavam, pelo seu peso relativo, as culturas anuais de regadio, os sistemas culturais e parcelares complexos, as culturas anuais e a vinha. 


Quanto às áreas artificiais, estas ocupavam 11,4% da área de estudo, cerca de 3,43 km². A área com maior relevância diz respeito ao tecido urbano contínuo, identificado como correspondendo ao centro urbano de Albergaria-a-Velha e ao lugar do Sobreiro, verificando-se a sua predominância face ao espaço urbano descontínuo. Estes espaços ocupavam, no total, 1,70 km², sensivelmente a mesma área que se encontrava ocupada pelas infraestruturas e equipamentos. Entre estas, destacam-se os 1,05 km² de zonas industriais e comerciais, que correspondiam quase por inteiro à zona industrial de Albergaria, que nesta época se encontrava ainda na primeira fase de construção e desenvolvimento.

Na COS 2007 verificam-se algumas mudanças importantes na ocupação do solo, particularmente a diminuição das áreas agrícolas e o aumento das áreas artificiais. As primeiras viram a sua área diminuir em função do crescimento do perímetro urbano, registando, em 2007, 3,74 km² – 12,43% da área de estudo – sendo a maior parte ocupada por culturas temporárias. Os territórios artificializados, por sua vez, atingiram os 5,39 km², ou seja, 17,89% do território. Pela primeira vez, a área destinada a indústria, comércio e transportes suplantou a área ocupada pelo tecido urbano, com 2,40 km² e 2,41 km², respectivamente. As áreas ocupadas por florestas e meios naturais e semi-naturais continuam a ser as mais representativas, atingindo quase os 70% da área de estudo. No entanto, analisando as características destas manchas, verificamos que a área ocupada por florestas diminuiu cerca de 4 km², enquanto os espaços naturais e semi-naturais, por sua vez, atingiram mais de 5 km², enquanto em 1990 eram cerca de cinco vezes menores.


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quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Evolução da População Residente por Freguesia

O concelho de Albergaria tem registado um crescimento demográfico positivo ao longo do período 1960-2011, na ordem dos 36,9%. Contudo, o crescimento tem sido heterogéneo, apresentando uma evolução demográfica distinta nas oito freguesias. Ao analisar a variação da sua população entre 1960 e 2011, verifica-se que Albergaria-a-Velha e Branca registaram a dinâmica demográfica mais positiva, concentrando mais de 50% da população total e um ritmo de crescimento da população residente mais intenso (119,5% e 35,1%, respectivamente), no período considerado.

Resultado da centralização de equipamentos e serviços, o núcleo urbano da cidade de Albergaria-a-Velha tem vindo a registar uma densificação acentuada. Verificou-se também um crescimento linear no lugar do Sobreiro, ao longo da antiga EN16, a via de ligação entre a sede de concelho e a cidade de Aveiro. A freguesia da Branca registou igualmente um crescimento linear que se concentrou em grande parte ao longo da EN1/IC2. Nesta via instalaram-se serviços diversificados, conferindo-lhe assim algumas características urbanas sem assumir as características típicas de centro urbano, influenciando negativamente o desenvolvimento e organização das funções urbanas da freguesia. Assim, e uma vez que grande parte da sua população mantém a agricultura como actividade complementar de subsistência, a freguesia conservou um carácter predominantemente rural, não se assumindo como núcleo urbano consolidado. 

No que diz respeito às restantes freguesias, Alquerubim (18,9%), Valmaior (10,3%), Frossos (6,2%) e Angeja (5,9%) registaram uma variação positiva da população residente, embora essa dinâmica não tenha sido homogénea nem constante, alternando períodos de crescimento com outros em que ocorreu uma diminuição dos efectivos populacionais. A freguesia de Valmaior sofreu uma perda significativa de população na década de 60 (cerca de 11,5%), recuperando nas décadas seguintes. A dinâmica demográfica apresentada por esta freguesia encontra-se condicionada, em parte, pela sua topografia acidentada e pela presença do Rio Vouga e sua bacia de cheia, que limitam a disponibilidade de terrenos urbanos, bem como a proximidade ao centro urbano de Albergaria-a-Velha 

Na zona sul do concelho, três das quatro freguesias apresentaram um acentuado crescimento demográfico entre 1960 e 2011, com excepção de São João de Loure. Esta freguesia, apesar de ser a que tradicionalmente regista uma das maiores densidades populacionais (184,31 hab/km2, em 2011), nas últimas décadas tem registado uma dinâmica demográfica negativa. Embora registe um elevado crescimento populacional na década de setenta, a década de oitenta é já de abrandamento significativo no crescimento, apresentando uma diminuição de população nas décadas seguintes. Este facto resulta de vários factores, entre os quais a dificuldade de implantação de novas habitações em virtude de grande parte da freguesia se encontrar incluída em Reserva Agrícola Nacional e em Rede Natura, assim como a escassez de equipamentos e serviços.

A freguesia de Frossos, no período em análise (60/11), apresentou um crescimento demográfico positivo de 6,2%, embora com algumas oscilações. Na década de sessenta perdeu 8.4% da sua população, enquanto na década seguinte recuperou e aumentou a sua população residente em 19,7%. Na década de oitenta voltou a aumentar a sua população em cerca de 11,9%, mas na década de noventa registou nova perda de 6%, que se prolongou na década seguinte com nova diminuição de 8%. Esta freguesia comporta apenas 3,9% da população total do concelho e apresenta uma densidade de 121,84 habitantes por km². Note-se, no entanto, comparativamente às outras freguesias do concelho, a sua reduzida dimensão, com apenas 7,95 km². 

Relativamente à freguesia de Alquerubim, no período de tempo em análise verifica-se que registou uma dinâmica de crescimento relativamente elevada, aumentando em 18,9% a sua população residente. No entanto, esta dinâmica não foi a mesma ao longo do tempo. Durante a década de 60 houve uma ligeira perda de população (0,1%), contrastando com a década seguinte, em que obteve um crescimento acentuado na ordem dos 19,4%. Nas décadas seguintes, a população residente estabilizou, verificando-se oscilações que não ultrapassaram 1%. De notar que Alquerubim, em 2011, é a terceira freguesia do concelho com maior peso relativo em termos populacionais e uma densidade populacional de 155,01 hab/km². 

A freguesia de Angeja, de acordo com os resultados dos vários censos, apresenta um crescimento populacional global positivo (18,5%), tendo, no entanto, um ritmo bastante invulgar. Assim, durante as décadas de 60 e 70, o crescimento foi positivo na ordem dos 2% e 15,9%, respectivamente. Note-se que apenas Angeja e Branca tiveram um crescimento positivo na década de 60. Na década de oitenta, a freguesia sofreu um decréscimo populacional bastante significativo (-44,4%) tendo, na década seguinte, registado um aumento bastante significativo (80,1%). Esta oscilação de valores reflecte, no entanto, um erro estatístico nos censos de 1991. Note-se que embora condicionada pelo facto de uma grande percentagem da sua área estar incluída em RAN, REN e Rede Natura, esta freguesia beneficia da proximidade a concelhos com uma importante dinâmica industrial e terciária, nomeadamente Águeda, Aveiro e Estarreja. A densidade populacional desta freguesia é condicionada pelas referidas reservas administrativas de âmbito nacional e europeu. Estes condicionalismos ao desenvolvimento do povoado reflecte-se na densidade populacional, que se situa nos 97,55 hab/km2, em 2011.

Nas restantes freguesias, verificou-se uma dinâmica demográfica negativa, com uma variação de -0,7% na Ribeira de Fráguas e -1% em São João de Loure. No período entre 2001 e 2011, Ribeira de Fráguas apresentou uma variação populacional negativa, com uma diminuição na ordem dos -8,3%. Na década de 60, registou uma ligeira diminuição da população, situação que foi compensada nas décadas seguintes, mas a um ritmo lento e decrescente a partir da década de noventa. De referir que Ribeira de Fráguas, apesar de ser a terceira maior freguesia do concelho, é aquela que apresenta menor densidade populacional (64 hab/km2), sendo responsável por apenas 6,8% do total da população concelhia, porventura devido às características peculiares da sua orografia acidentada.


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quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Pirâmides Etárias

A análise da estrutura etária da população é um contributo para a identificação das tendências de evolução demográfica, importante para a elaboração de previsões demográficas e económicas, ou seja, para a definição de estratégias de desenvolvimento municipal. Um dos aspectos mais evidentes da evolução demográfica do concelho de Albergaria-a-Velha é o progressivo envelhecimento da população, situação que se tem vindo a agravar desde os anos 70, embora se verifique um menor peso relativo em desta faixa etária em relação ao total dos efectivos populacionais, na última década. Verifica-se que o peso da população com menos de 15 anos tem vindo a diminuir de forma constante desde 1960. A diminuição dos efectivos populacionais mais jovens foi mais intensa durante as décadas de 70 a 90, registando-se uma diminuição menos acentuada na última década. Por seu turno, a população em idade activa tem registado um aumento relativo na estrutura populacional, com uma ligeira diminuição na década de 90, compensada de imediato na década seguinte, onde atingiu sensivelmente dois terços da população do concelho.


Salienta-se ainda o facto de o envelhecimento demográfico da população de Albergaria-a-Velha registar uma situação favorável relativamente ao contexto nacional e da Região Centro, verificando-se, comparativamente, um menor decréscimo da população jovem e um menor aumento da população idosa.


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Analisando a estrutura da população do concelho entre 1991 e 2011, por faixa etária, observa-se um envelhecimento da população através, simultaneamente, de um estreitamento da base e um alargamento do topo da pirâmide etária, reflectindo-se numa população mais envelhecida. Um dos acontecimentos demográficos marcantes deste século, em Portugal, foi a vaga de emigração que, principalmente durante os anos 60 mas também no início da década de 70, levou uma significativa parte da população portuguesa a abandonar o país.

O regresso de muitos portugueses do território ultramarino após o 25 de Abril e o regresso de alguns emigrantes na década de 80, vai reflectir-se na pirâmide etária de 1991 , pelo que o efeito da vaga emigratória dos anos 60 é de alguma forma mitigado, notando-se ainda um ligeiro estrangulamento em torno da faixa dos 50 anos. Verifica-se também uma diminuição acentuada nas classes etária dos 0 aos 5 anos, resultando no estreitamento da base da pirâmide etária.


Ao observar a pirâmide etária da população em 2001, verifica-se um quadro de uma população envelhecida, apresentando um agravamento na diminuição da base da pirâmide demonstrativo de uma baixa taxa de natalidade. O aumento de efectivos nos escalões etários entre os 60 e 80 anos poderá ser reflexo do aumento de esperança média de vida, em virtude da melhoria das condições de vida da população, assim como o regresso de emigrantes em idade de reforma. Relativamente à pirâmide etária de 2011, facilmente se percepciona que a tendência de duplo envelhecimento se agrava com maior intensidade. A população do concelho de Albergaria-a-Velha está a ficar cada vez mais envelhecida, como se pode constatar através do Índice de Envelhecimento. Neste âmbito, torna-se essencial pensar as necessidades de uma população que vai necessitar de um outro tipo de apoio, quer ao nível dos cuidados de saúde e de apoio domiciliário, quer ao nível dos transportes e mobilidade, para que os serviços cheguem a todas as freguesias do concelho. 

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terça-feira, 27 de outubro de 2015

Evolução da População Residente

A evolução da população do concelho de Albergaria-a-Velha tem-se caracterizado por um gradual crescimento dos seus efectivos populacionais, embora nem sempre de forma linear. Tendo como referência o período entre 1864 e 2011, verifica-se que o concelho teve uma certa dinâmica populacional, embora com diferentes ritmos de crescimento entre freguesias, revelando uma elevada heterogeneidade espacial. O fluxo migratório teve particular importância, uma vez que afectou as camadas mais jovens da população, sendo estas cruciais para o crescimento populacional e a renovação das gerações.

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A evolução da população residente no concelho revela um crescimento assinalável no período compreendido entre 1864-78 (crescimento médio anual de 1,21%), em que ocorre um acréscimo populacional de 17%. No período seguinte, entre 1878-90, ocorre pela primeira vez (em relação aos 130 anos aqui analisados) uma diminuição da população (decréscimo absoluto de 2,2%), a que corresponde uma diminuição média anual de 0,18%. Neste período, destaca-se a forte corrente emigratória para o Brasil.


Entre 1890 e 1900, a população retoma a fase de crescimento, com um aumento de cerca de 5% durante este período. No período intercensitário de 1900 a 1911, o ritmo de crescimento acentua-se (0,73% por ano), registando-se um acréscimo populacional de 8% nessa década. Entre 1911 e 1920, verifica-se uma significativa diminuição do ritmo de crescimento populacional (acréscimo anual de 0,11%), em consequência, sobretudo, da deflagração da I Guerra Mundial, à qual se associou uma forte corrente emigratória. Deste modo, a população aumenta neste período apenas 1%. Nas décadas de 20 e 30, desencadeia-se uma aceleração progressiva do ritmo de crescimento (acréscimos anuais de 0,37% e 1,04%, respectivamente), com ganhos populacionais absolutos de 4% e 10%, em cada um dos períodos mencionados.


Nos anos 40, o ritmo de crescimento decresce para cerca de 0,59% por ano, em consequência da II Guerra Mundial. Na década de 50, inicia-se um novo surto emigratório, cujos efeitos tiveram a sua manifestação mais significativa na década seguinte. Deste modo, nos anos 50 o ritmo de crescimento desacelera consideravelmente (passa para 0,32% ao ano), agravando-se de tal forma que na década seguinte a população vai mesmo diminuir (-0,25%). Em termos históricos, este foi o período de emigração mais intenso no concelho.


As décadas de 70 a 90 vão assumir-se como as de maior crescimento populacional dos últimos cinco quartos de século. A primeira destas décadas, apesar de sofrer ainda a influência quer do surto emigratório registado na década anterior, quer ainda da diminuição tendencial do Saldo Fisiológico, vai manifestar um forte crescimento populacional (acréscimo anual de 1,6%). Este ritmo de crescimento é influenciado pela diminuição muito significativa da emigração durante a segunda metade da década de 70, a que cumulativamente se associa a fixação no concelho de contingentes muito significativos de indivíduos provenientes das ex-colónias, ocorrendo deste modo um acréscimo populacional absoluto de mais de 18%. A década de 80, apesar de denotar uma diminuição do ritmo de crescimento relativamente à década anterior, manifesta, quer relativamente à dinâmica histórica do concelho, quer comparativamente a outras áreas geográficas, um crescimento muito assinalável (acréscimo absoluto de 13,2%). O concelho de Albergaria-a-Velha assume-se, neste período, como o de maior crescimento relativo da população em todo o Distrito de Aveiro, situando-se ainda entre os de maior crescimento em todo o país. Finalmente, a partir da década de 90 até ao ano de 2011, houve um aumento populacional ainda bastante significativo, destacando-se a década entre 1991 e 2001.


As estimativas mais recentes realizadas pelo INE indiciam uma diminuição significativa da população residente após 2011. Esta diminuição está associada ao forte fluxo emigratório em consequência da crise económica de 2009.

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Características Morfológicas, Litológicas e Pedológicas

O concelho de Albergaria-a-Velha apresenta uma variedade de situações morfológicas, nomeadamente um conjunto de elementos físicos reveladores de uma dicotomia campo/serra que se distingue entre diferentes tipos de relevo e altimetria: na zona Oeste predomina o relevo ondulado, onde a altitude raramente ultrapassa os 100 metros, enquanto na zona Este o relevo é muito mais acidentado, podendo atingir os 400 metros de altitude. Estas diferenças reflectem a transição entre o maciço rígido central e a zona mesozóica e cenozóica, sendo que, no concelho, estas duas unidades morfológicas estão separadas pela faixa de cisalhamento de Porto-Albergaria-a-Velha.

Os declives presentes no território concelhio, resultantes das formas de relevo, das especificidades do solo e subsolo, da orientação das vertentes e do encaixe das bacias de drenagem existentes, evidenciam a presença de uma paisagem mais acidentada no quadrante Este, a contrastar com a área central e Sudoeste, com declives pouco acentuados e com situações pontuais de áreas deprimidas e inundáveis, de que são exemplo a Pateira de Frossos, alimentada pelo Rio Vouga, e o troço final da Ribeira de Albergaria.

Em termos pedológicos e litológicos, o território do concelho reflecte também a transição entre o maciço rígido central e a zona mesozóica e cenozóica, ou seja, duas regiões com bastantes diferenças em termos de constituição geológica e de relevo. Assim, as freguesias ocidentais de Angeja, Frossos, São João de Loure e Alquerubim encontram-se sobre formações sedimentares com origem nos períodos geológicos do Holocénico, Jurássico-Triásico e Plio-Plistocénico. Estas zonas, menos elevadas, em geral com um relevo suave e encostas normalmente orientadas a poente, têm origem nos depósitos aluvionares das margens do Rio Vouga, bem como nos depósitos de antigos terraços marinhos e fluviais, em consequência quer da erosão diferenciada, quer da acção da tectónica. Na zona aluvionar do Rio Vouga, correspondente ao Holocénico, predominam os aluviões de natureza fina, siltosa e argilosa, que possuem elevado teor em matéria orgânica, que lhes confere um aspecto lodoso, estando os terrenos encharcados quase em regime permanente. Os solos predominantes são os Fluvissolos, na zona aluvionar do Vouga, e os Solonchaks, na zona correspondente à bacia da Ria de Aveiro. No restante território concelhio predominam os Cambissolos. Ao penetrarmos, para Este, no interior destas freguesias, os períodos geológicos vão-se sucedendo em diferentes camadas, assim como as unidades litológicas e o tipo de solo característico. Assim, ao Holocénico sucedem, a uma cota superior e já imunes às inundações do Vouga, os terrenos com origem no Jurássico-Triásico, com os seus grés-vermelhos de Silves, conglomerados, margas e até alguns calcários. Nestas freguesias, podemos ainda encontrar rochas do Plio-Plistocénico, com as suas areias, calhaus rolados e argilas. Na freguesia de Angeja encontram-se também algumas areias e cascalheiras do Plistocénico e uma pequena faixa composta por rochas do Pré-Câmbrico.

Nas restantes freguesias do concelho predominam as formações sedimentares e metamórficas. Nas freguesias de Albergaria-a-Velha e da Branca, sensivelmente até ao vale do Caima, sobressaem as formações com origem no Pré-Câmbrico, com os seus xistos, anfibolitos, micaxistos, grauvaques quartzitos, rochas carbonatadas e gnaisses. Nas freguesias de Ribeira de Fráguas e Valmaior, o tipo de formação geológica tem origem no período do Câmbrico ao Pré-Câmbrico, predominando os xistos grauvaques intensamente fracturados. Simultaneamente, encontram-se também pequenas manchas do período do Devónico ao Ordovícico, com os seus quartzitos característicos.

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in Bastos, João Pedro (2014). Dinâmicas Territoriais em Albergaria-a-Velha

Biografia do Lugar

O aparecimento do topónimo de Albergaria-a-Velha está directamente relacionado com a concessão da Carta de Osseloa, em 1117, por parte de D. Teresa, a Gonçalo Eriz, senhor da Villa de Osseloa, localizada sensivelmente na zona onde actualmente se encontra o lugar de Assilhó. Este documento tinha como principal objectivo a instituição de uma albergaria, junto à estrada que ligava Coimbra ao Porto e passava por este lugar, que servisse de apoio aos viajantes. Esta estrada, mais tarde conhecida como estrada real ou estrada coimbrã, correspondia à Via XVI do itinerário Antonino, que ligava Olisipo (Lisboa) a Bracara Augusta (Braga), e teve determinante importância durante o período de reconquista cristã e de afirmação do novo reino, sendo necessário garantir a segurança de todos os que nela viajavam. Assim, a instituição de uma albergaria cumpria uma função de assistência aos viajantes, mas também representava um papel político e social na afirmação do novo reino e defesa do seu povoamento.

Nos séculos seguintes, e já depois da confirmação das concessões a Gonçalo Eriz por parte de D. Afonso Henriques, consolidou-se uma aglomeração junto à albergaria e ao lugar de Osseloa, não tardando a construção de um Hospital. No séc. XV, D. João II doou estas terras à irmã, a Princesa Santa Joana, que as legou às Dominicanas do Convento de Jesus, em Aveiro. Além do lugar de Albergaria, havia ainda no Couto os lugares de Assilhó, Sobreiro, Frias, Fontão e São Marcos, pertencentes à Paróquia de Valmaior da qual Albergaria-a-Velha era sufragânea. Em 1496, as freiras de Jesus criaram a Freguesia de Santa Cruz de Albergaria-a-Velha.

Em 1527, aquando do Numeramento de D. João III, Albergaria-a-Velha encontra-se arrolada na província da Estremadura. Neste documento eram mencionadas quatro vilas e Concelhos pertencentes ao atual Concelho albergariense, que receberam Foral de D. Manuel – Angeja, com 95 vizinhos; Frossos, com 45; Paus, com 20; e Pinheiro, com 17. Pertencentes ao termo de Aveiro contabilizavam-se Albergaria e Assilhó, com 44 vizinhos, Fontão com 4, Mouquim com 6, Rendo com 5, Valmaior com 5, São João de Loure com 43 e Loure com 38; pertencentes à Vila do Vouga, Póvoa de Açores com 2 e aldeia de Valmaior com 12; e pertencentes à Vila de Bemposta, a Branca com 49 e a Ribeira com 34 vizinhos. No total, 442 vizinhos que totalizavam cerca de 2200 habitantes, sendo que a maioria da população vivia nas imediações do Rio Vouga e de outros cursos de água, já que a sua principal ocupação era a agricultura, que se praticava nas várzeas dos rios, mais facilmente arroteáveis, irrigáveis e produtivas, mas também a pesca e a criação de gado. Ainda segundo relatos da época, as zonas do interior, montanhosas, encontravam-se cobertas por floresta e tojo.

No séc. XVII, após um período de decadência, tenta-se reactivar a albergaria e o Real hospital, reclamados pelo Ducado de Aveiro. Em 1629, em sentença da Relação de Lisboa, confirma-se o tombo e demarcação das propriedades da instituição e a função da albergaria para acolhimento de doentes, peregrinos e viajantes, construindo-se então o chamado hospital novo, em cuja fachada foi colocada a lápide hoje existente nos Paços do Concelho. Em 1692 inicia-se a construção da igreja paroquial, por ordem de D. Pedro II. No século seguinte, em 1757, por ordem do Marquês de Pombal, realiza-se um inquérito que contabiliza 621 fogos na paróquia de Santa Cruz, correspondendo a cerca de 2800 habitantes. Este inquérito refere ainda que “dão estas terras milho, centeio, cevada, trigo, nabos, e mais frutos (…) caça bastante, lebres, coelhos, lobos” (Pinho, 2008, p. 17).

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As invasões napoleónicas do séc. XIX tiveram particular impacto no território albergariense, tendo-se registado importantes combates nesta região, De igual forma, os ideais da revolução francesa encontraram aqui terreno fértil, destacando-se diversas personalidades no período de guerra civil entre liberais e absolutistas. Foi no decurso destas contendas e em reconhecimento da intervenção dos albergarienses no combate ao absolutismo de D. Miguel que surgiu, em 1834, o Concelho de Albergaria-a-Velha, constituído pelas Freguesias de Albergaria-a-Velha, elevada a cabeça de Concelho, e de São João de Loure, anteriormente pertencentes ao Concelho de Aveiro, de parte da de Valmaior, subtraída ao Concelho de Vouga, e no ano seguinte o Concelho de Paus (Alquerubim), que foi, em consequência, extinto. Após um breve interregno, entre 1842 e 1846, durante o Cabralismo, em que a sede do Concelho foi transferida para Paus, e após a sua restauração neste último ano, o Concelho de Albergaria-a-Velha anexa, em 1853, as Freguesias de Frossos e Angeja, do Concelho de Angeja, que é assim suprimido. Em 1855, o Concelho de Albergaria-a-Velha adquire por fim a sua configuração actual, ao anexar as Freguesias da Branca e Ribeira de Fráguas, pertencentes ao extinto Concelho da Bemposta.>

O início da viragem urbana da vila deu-se nas últimas décadas do século XIX, com a construção de algumas infraestruturas fundamentais e a chegada de importantes equipamentos e serviços. Em 1889, criou-se um centro cívico (Praça Ferreira Tavares), de onde se projectaram e construíram novas vias que constituíram a 1ª fase de expansão da malha urbana, assim como a rede de abastecimento de água. Aqui foi edificado, em 1897, os Paços do Concelho. 

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A localização geoestratégica privilegiada da vila, na confluência de importantes vias de comunicação, permitiu a implantação precoce de alguns serviços que, há época, representavam um sinal de modernidade e desenvolvimento. Foi o caso da estação telégrafo-postal, em 1880 (embora os primeiros serviços tenham aparecido em 1830); o aparecimento dos primeiros veículos motorizados e os respectivos serviços de manutenção, nos primeiros anos do séc. XX; a construção da Linha do Vale do Vouga, que se iniciou em 1907 e chegou a Albergaria-a-Velha em 1910, ligando a vila a Aveiro e Viseu; a construção da primeira escola primária em 1870, sendo que ainda antes do final do século todas as Freguesias eram já servidas pela rede de ensino; a instalação do Julgado Municipal em 1887 e a criação da Comarca, em 1888.

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Nesta época, a população evidenciava características de ruralidade, como, aliás, em todo o país. Os principais produtos comercializados eram aqueles que a terra proporcionava, entre os quais trigo, milho, batata, feijão, vinho e a criação de gado. Além destes, assumiam particular destaque e prestígio em outras regiões, o arroz dos campos do Baixo Vouga, a madeira e a farinha, produzida nas centenas de azenhas e moinhos que laboravam no Concelho. Esta panóplia de produtos e a sua localização privilegiada faziam da feira de Albergaria, juntamente com outras no Concelho, ponto de encontro de comerciantes e negociantes de diversas proveniências, dinamizando também a actividade cultural. A indústria, ainda incipiente, teve como actividades pioneiras as que retiravam um melhor aproveitamento das matérias-primas locais, como a tecelagem caseira, a cerâmica artesanal, oficinas de serralharia, oficinas de correeiros e seleiros, fabrico de cera e de curtumes. Com o desenvolvimento das vias de comunicação, a partir de meados do séc. XVIII, instalaram-se algumas indústrias mineiras nas zonas interiores do Concelho, ricas em chumbo, cobre, zinco, níquel e prata. Em meados do século XIX, instalaram-se também no Concelho importantes indústrias, das quais as mais relevantes foram a fábrica de papel de Valmaior, em 1872, e a fábrica de papel do Carvalhal, em 1881.

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Após a implantação da República, o Concelho trilhou paulatinamente o seu caminho rumo à modernidade, acompanhando as dinâmicas que se verificavam no país. Ao longo do século passado, a agricultura começou lentamente, mas de forma irreversível, a perder a supremacia que detinha, tanto no que diz respeito à mão-de-obra que absorvia, como à sua importância para a economia local, sendo aos poucos encarada como um complemento ao rendimento familiar. No sector florestal, o eucalipto foi ganhando preponderância, em parte devido à proximidade a grandes unidades industriais de fabrico de pasta de papel. O sector secundário emergiu como principal actividade, com incidência para o setor metalúrgico. Em 1921, instalou-se em Albergaria-a-Velha a Fundição Lisbonense que, ainda nesse ano passou a chamar-se Fundição Albergariense e, mais tarde, se viria a chamar Fábricas Metalúrgicas Alba. Além da dinamização da economia e do mercado de trabalho local, esta empresa foi responsável pela dinamização social e cultural do Concelho, sendo da sua responsabilidade e dos seus proprietários a construção do Cine-Teatro Alba, inaugurado em 1950, da Casa da Criança, do novo hospital, inaugurado 1953, que veio substituir o anterior, datado de 1938, de um bairro social e de um bairro para os trabalhadores qualificados, de um parque desportivo, entre outras obras de relevo que ajudaram a infra-estruturar o Concelho com o que de melhor se fazia à época.

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Em 1968, foi inaugurado o mercado municipal e em 1970 entrou em funcionamento a escola secundária, complementando assim a oferta educativa ao nível do ensino secundário existente no Concelho desde a abertura do Colégio de Santa Cruz, em 1927, e do Colégio de Albergaria, em 1947. Com a criação da zona industrial, em 1983, a norte da cidade de Albergaria-a-Velha, criaram-se as condições necessárias para a fixação de novas indústrias, formando um importante tecido empresarial no sector metalomecânico mas também nos plásticos, alimentação, têxtil e madeiras.

in Bastos, João Pedro (2014). Dinâmicas Territoriais em Albergaria-a-Velha

Enquadramento Territorial

Albergaria-a-Velha é uma cidade portuguesa, sede de concelho, situada no noroeste da Região Centro de Portugal. Assume uma posição central na fachada atlântica da Península Ibérica, em particular no eixo compreendido entre as cidades de Coimbra e Porto, estando equidistante de ambas. Dista cerca de 15 km da linha de costa Atlântica e tem como concelhos limítrofes Oliveira de Azeméis a norte, Estarreja e Murtosa a noroeste, Aveiro a sudoeste, Águeda a sul e sudeste e Sever do Vouga a este, todos eles pertencentes ao Distrito de Aveiro.

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